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Era uma tarde chuvosa e eles entraram molhados na sala. Em
seus rostos escorriam a água da chuva que se confundia com as
lagrimas. Eles já não sabiam mais conviver de outra forma que
não fosse pelas agressões verbais.

Nos sentamos e suas cadeiras se distanciaram da mesma forma e
rapidez que suas vidas. Não se olharam.

Conforme eu falava sobre como seria a nossa reunião sentia os
arrepios em seus corpos e o temor tomando conta da situação.

Ofereci um café e conversamos sobre a temperatura, a chuva, o
feriado próximo, o verão, a praia, a noite
quente…Descontraímos. E começamos, nós três, uma conversa,
um pouco sem jeito e aos poucos eles disseram muito
timidamente suas mágoas.

Não conseguiam exprimir qualquer acontecimento positivo, só as
tristezas que assombravam um ao outro.

Continuamos e a minha melhor possibilidade era ouvir. Ah, isso
eles gostaram. E como gostaram de poder falar. Eles não sabiam,
ainda, que também ouviam.

Suas falas eram rasgadas e carregadas de tristeza e sentimentos
ainda indefinidos e necessidades não atendidas. Era tudo muito
novo, assustador. Se sentiam perdidos. Isso eles concordavam.

Durante duas horas apenas ouvi. E pude compartilhar com
ambos a minha empatia e estabelecer uma relação de confiança
para continuarmos juntos num próximo encontro. Era muita
novidade para eles, poder falar, poder ouvir e a possibilidade de
poder entender. Ainda era assustador. Ficaram bem e com a
determinação de uma nova reunião.

Antes, pedi para eles como trabalho de casa, que trouxessem
escrito (é didático) qual seria a separação dos sonhos.

Na semana seguinte, não chovia, eles chegaram quase ao mesmo
tempo. Já se olhavam, mas não se viam.

Sentamos e conversamos como foi a semana deles, trouxeram
suas vidas sem vida e ainda muito temerosos com o que viria
para eles, entre eles.

Perguntei sobre o trabalho de casa e rapidamente ambos
sacaram seus papéis e já aflitos para começar a ler. Então, eu
trouxe para eles uma dinâmica, que trocassem os papeis. Que
cada um lesse o que o outro escreveu.

No primeiro momento se olharam e ficaram parados por uns 10
segundos e só em seguida trocaram.

Ela começou a ler e já no terceiro item caiu aos prantos. Parou.
Ele em seguida leu o que ela escreveu. Nem repetiu. Também
chorou. Ficamos ali por mais ou menos uns 10 minutos em
silencio total só quebrado pelo som dos soluços.

A primeira ideia do que seria a separação dos sonhos era
respeito. Ambos escreveram a mesma coisa. A segunda era
reconhecer toda a dedicação com a família. Ambos escreveram a
mesma coisa.

Quando puderam e quiseram, eles se olharam e começaram um
novo diálogo diferente daquele do primeiro dia, ainda carregado
com muita emoção, mas percebi uma leve ondulação na voz. Era
a suavidade querendo imergir no meio do rancor.

Fiz uma pergunta reflexiva quando foi apropriada, como eles
gostariam de se ver daqui há 10 anos. E eles se olharam de novo,
mas dessa vez percebi que eles se viam. Ficamos em torno de
umas 3 horas nessa reunião.

Trouxeram suas mágoas do passado, puderam falar e ouvir.
Começaram a pontuar questões anteriormente não percebidas,
esclareceram pontos de vista, reclamaram, reconheceram,
entenderam e compreenderam.

Marcamos uma terceira reunião. Estavam cansados, mas com
um novo semblante quase que iluminado chamado
possibilidade.

Em nossa terceira reunião chegaram juntos. Um esperou o outro
na entrada. Sorriam, se olhavam e se viam. Ainda traziam uma
certa desconfiança, mas abertos a possibilidades de uma nova
história. Sim, eles decidiram contar uma nova história. Fizeram
vários arranjos, acordos provisórios e o compromisso de fazer o
melhor para restabelecer uma comunicação compassiva e
determinados a fazer uma separação mais tranquila.

Uma das decisões foi não fechar a empresa. Sim, eram sócios
com 40 colaboradores. Entenda se 40 famílias, sem contar seus
clientes e parceiros. O compromisso foi um passo de cada vez,
foram encarando o dia a dia e percebendo como se
comportariam diante de tantas novidades.

Foi indispensável uma quarta reunião onde estabeleceram
procedimentos internos e externos para a empresa,
transformando o relacionamento organizacional e a capacidade
de negociar situações adversas. Consequentemente, tomada de
decisão assertiva.

E você quer saber da empresa? Ela continua. E muito bem,
ambos dirigem com suas novas histórias. E as 40 famílias, os
parceiros e os clientes também puderam contar uma história de
sucesso. E você, já decidiu que história você quer contar da sua
vida?

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